Liderança (IN) Sustentável
- Ana Costa Couto
- 12 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mar. de 2021
Liderança Sustentável deveria ser uma redundância. Liderar deveria ser sinônimo de conduzir o presente de forma a construir o futuro, mas infelizmente não é o que encontramos no dia a dia das nossas organizações.
A experiência tem mostrado que não é possível uma liderança comprometida com a sustentabilidade sem uma verdadeira reviravolta no mindset que criou os principais problemas que estamos vivendo. Einstein já dizia: “não podemos encontrar soluções para os problemas que enfrentamos com o mesmo modelo mental que os criaram”. Se quisermos fazer algo verdadeiramente transformador, e precisamos urgentemente fazê-lo, precisamos começar a olhar a matriz mental daqueles que estamos escolhendo para liderar nossas organizações e sociedade.
Em que, verdadeiramente, eles acreditam? Quanto suas crenças numa prática sustentável conseguirão impor-se, na prática, às pressões das mentes dominadas por crenças de gratificações imediatas e oportunistas?
Se há uma missão realmente valiosa para qualquer um que aceite o desafio de liderar uma instituição em nossa sociedade, essa missão é mudar o modelo mental que nos conduziu à situação atual e que, se assim seguir, levará nossos principais sistemas ao colapso. Passamos a justificar, e a nos convencer, que uma série de ações bestiais é necessária para garantir a sobrevivência de nossas organizações. Uma lógica darwinista perversa.
A consciência humana poderia ser dividida em três grandes domínios: o animal, o intelectual e o espiritual. A consciência humana animal está dominada por instintos de sobrevivência dos quais decorrem crenças do tipo: matar ou morrer, dominar ou ser dominado e ocupar o território com seus filhotes.
Exemplos dessas crenças não faltam no mundo corporativo. Vejamos se lhes são familiares:
“Só os mais competentes terão lugar no mercado de trabalho”
“No mundo dos negócios você não pode confiar em ninguém, a qualquer momento alguém puxa seu tapete”
“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”
“Precisamos dominar o mercado e destruir a concorrência”
“A empresa está passando por uma crise, então, trabalhe por três, esqueça sua vida e família e não reclame, porque você corre o risco de que pensem que você não está comprometido e lhe troquem por alguém com mais garra”.
“Precisamos aumentar o retorno aos acionistas”, para que eles continuem…
“Precisamos conquistar novos clientes, senão seremos comprados, “comidos”
E a mais “enigmática” de todas – “Business is business”, o que isso significa mesmo?
Em síntese, estamos falando de uma comunidade cujas crenças que permeiam sua consciência de grupo e, portanto, penetram a matriz mental dos indivíduos, está dominada e buscando dominar pelo medo, cujo foco principal está na sobrevivência. Isto posto, não é de estranhar que em nossos dias haja tanta depressão, síndrome do pânico, crise de ansiedade, TOC, Burnout, etc. A prevalência deste modelo mental vem corroendo e danificando severamente o homem e seu ambiente social em nome do “sucesso”. Devemos então, em sã consciência, continuar chamando de líderes àqueles que conduziram o mundo ao estado atual?
A consciência humana intelectual por sua vez, está impregnada pela lógica da dominação e da competição, e se põe a serviço de desenvolver tecnologias sofisticadíssimas para perpetuar as “crenças certas”.
E então qual é a saída?
Remodelar nossa matriz mental com princípios e crenças inspirados em nossos mais altos níveis de consciência, uma consciência espiritual, que inclua a tudo e a todos. Assumir para si a responsabilidade da urgente autotransformação. Como disse M. Gandhi: “Temos que ser a transformação que queremos ver no mundo”.
Começar perguntando:
Que mundo eu quero ajudar a construir?
Como o meu trabalho pode ser um meio para isto?
De que modo posso desempenhar meu trabalho e conduzir minhas ações alinhados com princípios éticos?
Como posso melhorar o que eu faço para contribuir com a minha prosperidade, segurança, felicidade e evolução, assim como com a das pessoas a minha volta?
Como posso fazer tudo isso sem comprometer os recursos do planeta, que nossos filhos possuem o direito de ter e, nós o dever de entregar?
Isto significa fazer um turnaround, uma reviravolta, uma revolução na nossa visão de mundo. Deixar de usar nossa mente brilhante –consciência intelectual – para servir a consciência animalesca que vem criando uma realidade insustentável, e passar a usá-la a serviço de um propósito que nos dê dignidade. Sim, nós precisamos de uma nova liderança. Uma liderança sustentável, a única que deveria ser reconhecida como tal. Ana Lúcia Costa Couto
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