Qual é a pandemia que está nos matando?
O COVID-19 mata. Mataria bem menos se não tivesse dois aliados igualmente letais: a corrupção e a conformidade.
Se você procurar no dicionário o significado da palavra corrupção, encontrará o seguinte: substantivo feminino: 1- deterioração, decomposição física de algo; putrefação. 2- modificação, adulteração das características originais de algo.
Palavras exatas que contempladas por alguns instante nos dão uma noção mais real daquilo que muitos já consideram como “normal”, aceitável, tolerável, expressando assim sua conformidade.
O que você faz com algo que está deteriorado, em estado de putrefação? Que irremediavelmente perdeu suas características originais para sempre? Convive com o fedor? Aceita e se resigna? Ou você elimina, joga fora, substitui?
Vivemos uma sindemia*, que é a junção de uma pandemia com outra na criação de um inferno coletivo criado deliberadamente por interesses de pessoas apodrecidas, deterioradas, não apenas no caráter, mas na alma. Tudo começa com pequenos atos.
Como um cancro que cresce silenciosamente e se espalha por todo o organismo. Extirpá-lo de inicio tem sido a estratégia que melhor funcionou até hoje. Quando somos silenciosos sobre o mal, somos também cúmplices de suas consequências. O câncer se espalha até que nada mais seja possível fazer para salvar o atormentado. Da mesma forma a corrupção e sua principal aliada – a conformidade. Ela se espalha até atingir a alma do ser, que já não pode mais ser considerado humano, pois atenta contra toda a humanidade, e passa a se comportar como um vírus devastador.
Por que vírus? A palavra vírus vem do Latim e significa fluído venenoso ou toxina. Os vírus não têm metabolismo próprio, não têm qualquer atividade metabólica quando fora da célula hospedeira, por isso deveriam ser considerados "partículas infecciosas", ao invés de seres vivos propriamente ditos. Os vírus replicam-se através da seguinte estratégia: eles invadem células, o que causa a dissociação dos componentes da partícula viral; esses componentes então interagem com o aparato metabólico da célula hospedeira, subvertendo o metabolismo celular para a produção de mais vírus. Existe a presença massiva de vírus em todos os reinos do mundo natural, sua origem - aparentemente é tão antiga como a própria vida, mas a sua propagação sempre dependerá da célula hospedeira. Em muitos casos os vírus modificam o metabolismo da célula que parasitam, podendo provocar a sua degeneração e morte.
Como sociedade, precisamos de vacina urgentemente. Um vírus não merece clemencia, tolerância, ou medidas paliativas. Livrar-se de um vírus letal requer ações efetivas e radicais. Uma vez que algo apodrece, não se pode esperar recuperação. Só a amputação é aceitável.
Milhares de vidas têm sido ceifadas não apenas pela ação isolada do Covid-19, mas pela putrefação da alma dos políticos, pela insensibilidade dos psicopatas de plantão, pelos interesses partidários que juntos formam uma comunidade viral mortífera.
Sim, precisamos de uma vacina urgente. Uma vacina que desperte consciências, que acorde os milhões de pessoas de bem, crédulas, que votam ainda na esperança de serem ouvidas e representadas. Uma vacina que nos tire desse estado letárgico, inconsciente de nosso poder, uma vacina que estabeleça a vontade pela dignidade, uma vacina que acorde nossa consciência para a realidade de que há anos estamos sendo saqueados do nosso direito de viver e morrer com dignidade. Uma vacina que nos cure e estabeleça a saúde de nossas almas.
Esperar que um vírus se comporte como um ser humano é ignorância, é burrice, é ausência de responsabilidade pessoal em agir, é acreditar que a solução é mágica e ela está fora de nós.
Estamos falando de almas deterioradas, apodrecidas, organismos incapazes de retornar a sua condição original de Ser humano. Estamos falando de gente que virou vírus da nossa sociedade, se reproduzem de forma parasitária, e todos os dias matam um pouco mais nossa dignidade, nossa esperança e nossa boa fé.
*Sindemia caracteriza a interação mutuamente agravante entre problemas de saúde em populações em seu contexto social e econômico. O conceito foi cunhado por Merril Singer a partir de estudo sobre o entrelaçamento entre a síndrome da imunodeficiência adquirida e a violência em cidades estadunidenses.
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